3 de out. de 2013

Manejo Agroflorestal no Sítio São José, Sertão do Taquari, Paraty (RJ), Brasil

Mutirão Agroflorestal e Reunião Técnica para o fortalecimento dos produtores agroflorestais     



     O Sítio São José, da família do produtor rural José Ferreira da Silva Neto, é uma unidade encravada no sertão do Taquari, em Paraty, tendo a Mata Atlântica como matriz florestal.

     José Ferreira, brasileiro de origem, nordestina, migrou para a região na década de 1980, exercendo desde então a criação de bovinos em pastos abertos após a derrubada da floresta. Há 13 anos, conheceu os Sistemas Agroflorestais (SAFs) através dos mutirões organizados pelo GAE – Grupo de Agricultura Ecológica, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Paraty (RJ). Desde então, vem convertendo integralmente sua propriedade em um mosaico de SAFs. ‘Zé Ferreira’, apoiado por sua família, se tornou em um dos grandes expoentes sobre os SAFs no Brasil e o Sítio São José, em Paraty, tornou-se local de vivência e encontros coletivos focados na troca de experiências sobre o manejo dos SAfs.
  
Relato:
A necessidade de estreitar os laços entre os produtores rurais e entidades que trabalham com os SAFs nas regiões do Litoral Norte paulista, Costa Verde fluminense e o Vale do Paraíba, levou os membros da Rede Agroflorestal a organizar um Mutirão Agroflorestal com o apoio do produtor ‘Zé Ferreira’, realizado nos dias 20 e 21 de Outubro de 2013, no Sítio São José, no Sertão do Taquarí, em Paraty (RJ). Participaram dessa atividade diversos produtores rurais das seguintes localidades: Quilombo do Cambury e Taquaral (Ubatuba), Sertão do Taquari e Cajaíba (Paraty), todos vinculados ao projeto de resgate da palmeira juçara (IPEMA-AKARUI); produtor rural do Assentamento do MST (São José dos Campos) e produtor de guanandi em SAF da Fazenda Coruputuba (Pindamonhagaba); técnicos do IPEMA – Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica, do Pólo APTA Vale do Paraíba (Pindamonhangaba) e da ONG 5Elementes.
         José Ferreira, anfitrião, abriu o dia de atividades com uma apresentação rápida sobre o histórico da família Ferreira, e visita à unidade para o manejo agroflorestal. O manejo foi realizado em uma área de cerca de 2.000m², baseado na capina seletiva (roçada com penado) da vegetação herbácea, deixando-se as mudas florestais em formação e a adubação verde (tefrósia e guandu), já plantada (2m altura) em faixas de contorno em nível. No dia seguinte, um grupo realizou o plantio de palmeira juçara (Euterpe edulis) na linha das leguminosas.


Aleias de Tefrosia e Guandu



    Posteriormente, ‘Zé Ferreira’ irá realizar o plantio de mandioca Preta (dupla aptidão: farinha e mesa – cozinha com qualquer idade e é plantada em pé) com adensamento de leguminosas nas faixas que se formaram entre a aléia de tefrósia + guandu. Esta mesma área em 2010 já havia sido manejada onde o Ingá feijão e Ingá Mirim foram utilizadas como adubação verde . Nesse momento podíamos encontrar as cepas secas desses ingás nas aleias de tefrósia e guandu.




Plantio do Jussara - 2013
Derrubada do Ingá - 2010


   

















     No período da tarde, após o almoço, os participantes se reuniram para avaliar a proposta de união entorno da Rede Agroflorestal, para o fortalecimento e a disseminação dos SAFs nas regiões do Litoral, Vale do Paraíba e Mantiqueira. Foi explicado que atualmente, a Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, reúne participantes dos mutirões agroflorestais realizados em Pindamonhangaba bem como outros interessados que se ligaram ao longo do tempo, possui sede no CEAVAP – Centro de Estudos Ambientais do Vale do Paraíba/FARO – Faculdade de Roseira e um blog na internet < http://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com.br/ >.
    José Ferreira destacou a importância da articulação da Rede Agroflorestal, dentre outras atividades, promovendo a troca de sementes, que deve ocorrer de maneira contínua em todos os encontros. Patrick Assumpção (Fazenda Coruputuba, Pindamonhangaba) destacou a importância da Rede para a reunião de informações e promoção dos SAFs ligando todas as regiões, destacando a importância da Rede na promoção do resgate de espécies nativas, principalmente frutíferas, para a reintrodução no Vale do Paraíba daquelas praticamente extintas. José Ferreira destacou que no ano de 2013, diversas frutíferas consolidaram sua produção (araçá-boi, grumixama, cubiu, cacau, cabeludinha e bacupari), resultando no preparo de compotas e geleias, porém, com grandes perdas de sementes. Antonio Devide (APTA) relatou que a Rede se formou a partir da articulação espontânea de produtores, técnicos, educadores, acadêmicos, gestores públicos dentre outros atores, reunidos nos mutirões agroflorestais que ocorreram desde o ano de 2009, no Vale do Paraíba e que atualmente a Rede visa ações de ensino-pesquisa-extenção agroflorestal, está organizada em Núcleos: Mantiqueira (Sítio Diversitah), Vale do Paraíba (Sede CEAVAP/Faculdade de Roseira), Região Metropolitana (Instituto de Botânica/ONG 5 Elementos), Litoral (Sítio São José). Washington Mourão, de Ubatuba, contou a história da conversão agroflorestal de seu Sítio, no Sertão do Taquaral (Ubatuba), ressaltando que está se especializando na produção de cambucá e que poderá trocar mudas e sementes, em breve.  Relatou experiências com inhame (Colocasia esculenta) e a necessidade de se organizar para conseguir novos mercados, como ocorreu com a merenda escolar, em Ubatuba. O produtor Valdir, do MST, relatou sua experiência com a venda de produtos orgânicos na feira e de como conheceu os SAFs, o apoio que tem tido para instalar uma unidade no Assentamento Nova Esperança e a previsão de mutirão no final do mês de Outubro (28/10/2013). José Ferreira, disse que poderá ser um facilitador, pois estará retornando de uma atividade na Universidade Federal de Viçosa (MG). Braz, do Sertão do Taquari, falou de seu interesse em promover os SAFs na localidade, através da promoção dos mutirões, destacando que só assim os SAFs se firmarão, porque a mão de obra é escassa e os jovens não querem trabalhar no campo. Jorge Ferreira, parceiro de Braz, ressaltou que é possível viver da produção que tem obtida do manejo agroflorestal. Isaías e Alcides (Ubatuba) relataram no Quilombo do Cambury, as dificuldades são grandes para se produzir em áreas consideradas de proteção ambiental, mas que têm conseguido bons resultados a partir da união dos produtores, trocando informações, mudas e sementes, destacando que o projeto que incentivou a produção da palmeira juçara para a colheita de frutos foi excelente para a população, os bichos e as plantas, resultando em grande quantidade de sementes beneficiadas que podem ser replantadas, sendo isto bem melhor do que o corte do palmito.

   José Ferreira pediu para que nos próximos mutirões o grupo promovesse a troca de sementes e mudas de maneira espontânea, sem precisar avisar. Keila (Universidade da Cantareira) resaltou que com o blog bem estruturado e atualizado, facilitaria a comunicação entre os núcleos e que precisa fazer um cadastro dos produtores e sementes das quais têm disponíveis para troca.   Dani (IPEMA), representando o IPEMA, considerou que a distância de todos pode ser um impeditivo para assumir compromissos na estruturação da Rede. Patrick ressaltou que cada região tem sua dinâmica própria, de encontros, mutirões e organização, mas que é possível compartilhar a informação a partir de relatos de experiências que ficam disponíveis na internet (blog). Ao final, um grupo se deslocou na propriedade para conhecer outros SAFs e o ambiente de mata atlântica.



REDATOR NOME: Antonio Carlos Pries Devide – Engº Agrº Pesquisador do Pólo APTA Vale do Paraíba
DATA DE REDAÇÃO: 24/09/2013
REVISOR NOME: Patrick Ayrivie de Assumpção – Produtor Rural – Fazenda Coruputuba
DATA DA REVISÃO: 26/09/2013






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